Xangô, era rei
de Oyó, governava sua cidade com prudência e justiça, e tudo corria bem em seu
reino quando recebeu a notícia de que outro povo muito forte e numeroso atacaria
sua cidade. O rei da cidade inimiga queria se apossar das terras de Oyó e fazer
seus guerreiros escravos.
Xangô já havia
passado por isso muitas outras vezes e nunca havia desistido, recuado ou se
entregado a qualquer inimigo, por mais poderoso que fosse. Porém dessa vez era
diferente, analisou a situação e viu que estava em larga desvantagem, todo seu
povo junto era menos numeroso que o povo inimigo, e ainda metade dos guerreiros
haviam partido para outro reino, onde participariam de uma confraternização aos
deuses pela boa colheita da região. Imediatamente enviou um mensageiro para chamar
os guerreiros de volta. Tentou ganhar tempo om o rei da tribo inimiga e propôs
um acordo.
-Podemos
chegar a um acordo, eu posso ceder uma parte do meu território a vocês, não
precisamos guerrear entre nós.
-Nada disso,
sabemos que sua tribo não dispõe de metade dos seus guerreiros e queremos todo
seu território, se se renderem, posso poupar suas mulheres e crianças, levaremos
os soldados como escravos, precisamos de braços fortes para construir nosso
império. O rei inimigo falava isso enquanto ria com vontade, divertindo-se à custa
da situação.
Xangô
consultou o povo e seus soldados, disseram que não aceitariam ser escravos de
ninguém, sendo assim preferiam morrer a ter que se submeter à escravidão. Xangô
ponderou que eles poderiam partir com o exército inimigo e quando o resto de
seu exército regressasse, eles iriam libertá-los. Os soldados disseram não
confiar naquele rei que já havia demonstrado sua crueldade em outras guerras.
Não havia alternativas, a não ser lutar.
A batalha foi
ferrenha, com o sentimento de que não havia mais nada a perder, pois se
vivessem seriam escravos, os guerreiros de Oyó lutaram como nunca lutaram antes.
As mulheres do reino também entraram na batalha para defenderem a liberdade de
seus maridos. Até as crianças do reino, vendo seus pais lutando com tanta
fúria, entraram na batalha ao final do primeiro dia.
Porém a tribo
inimiga era muito mais forte em força e número que a de Oyó. A guerra estava
sendo perdida. Xangô, vendo seu povo cair um a um, seus soldados, suas mulheres
e suas crianças morrendo, resolveu se retirar do campo de batalha. Refugiou-se nos
montes próximo da cidade. O povo inimigo comemorou a vitória e adentrou a
cidade no dia seguinte. Comeram, beberam, festejaram e saquearam a cidade, colocaram
fogo em casas e templos e se preparavam para subir as montanhas para capturar o
resto dos soldados já enfraquecidos.
Enquanto isso
Xangô falava ao povo. -Não podemos baixar nosso moral, perdemos uma parte da
batalha, mas ainda não perdemos a guerra. Se soldados nossos caíram no campo de
batalha, soldados deles também caíram. Se continuássemos o combate naquela
situação, em número inferior, seríamos dizimados. Foi preciso recuar para que
eles pensassem que venceram e se distraíssem com o saque da cidade. Neste
momento nossa legião de soldados caminha em nossa direção. Vamos aguardar os
inimigos aqui e rezar a Oxalá para que nossos filhos cheguem a tempo.
Na manhã do
terceiro dia a batalha teve início novamente. Mas no momento de iniciar o combate
chegaram o restante dos filhos de Oyó, agora acompanhados por soldados das cidades
vizinhas. Ao todo este exército formava um número três vezes maior que o da
tribo inimiga. Os soldados, as mulheres e as crianças que haviam lutado na
batalha anterior nem precisaram combater novamente. A tribo inimiga foi exterminada
ao pé da montanha que protegia o reino de Oyó.
Depois dessa
guerra Xangô ganhou ainda mais o respeito de seu povo e dos reis das cidades
vizinhas. Apesar de uma situação tão adversa, não deixou de lutar por sua vida
e liberdade, e ao sentir uma guerra perdida, não deixou de recuar no momento
necessário para recompor suas forças.
Zeca d’Oxóssi da Aldeia Tupinambá