domingo, 15 de abril de 2012

SALVE OGUM, JORGE E POVO BRASILEIRO


OS ENVIADOS

Numa época distante, perdida no tempo em que os homens defendiam sua honra e suas vidas com a espada, vivia um povo simples, pessoas de bem que não conhecia a guerra, até aquele momento, pois este povo corria o perigo iminente de ser eliminado por uma violenta tribo invasora que destruía a tudo e a todos em seu caminho.

Este povo simples não possuía armas, mas tinha fé, e assim orava aos céus para que fosse enviado um livramento.

Às vésperas da invasão, um valente cavaleiro das terras do norte vinha montado num cavalo branco; trazia em seu corpo uma lustrosa armadura, um escudo em sua mão esquerda, uma espada em sua cintura e nas costas uma longa capa vermelha. Do outro lado vinha um grande e valente guerreiro negro a pé, também de armadura, escudo em punho, uma espada na mão. Próximo do povoado os dois se encontraram. O guerreiro a pé gritou logo.

-Auto lá, estranho! Se for de bem, se apresente; se não for que se curve.

-Só me curvo ou ao meu Mestre e Senhor! Mas se quer saber eu sou Jorge, nascido da Capadócia, da ordem de São Miguel, enviado de Jesus Cristo para lutar por este povo. E vós, quem sois?

-Eu sou Ogum, vindo das terras de Ifé, rei de Irê, das tribos yorubás, da ordem dos Orixás e enviado de Oxalá para lutar por este povo que não conhece a guerra.

-Então baixemos nossas espadas, amigo, temos o mesmo objetivo e o mesmo inimigo em comum, e como eles são numerosos, podemos lutar juntos.

Aquela noite os dois guerreiros aproveitaram que a tribo inimiga não esperava um ataque - pois sabia que o povoado a sua frente era de paz - e fizeram um ataque de frente. Ogum, o guerreiro de Oxalá, empregava todas as suas forças no combate e sua espada não descansava um momento sequer. Jorge, o cavaleiro do norte, montado em seu cavalo distribuía golpes à esquerda e à direita, seu escudo não teve serventia nesse confronto, pois seu espírito guerreiro combatia abertamente por uma causa justa e um povo de paz.

Na manhã seguinte, após a vitória, os dois guerreiros conversaram.

-Cavaleiro, lutaste como um verdadeiro e digno guerreiro, sempre que precisar, pode me chamar, terei a imensa honra de combater qualquer batalha ao seu lado.

-Eu digo o mesmo, guerreiro negro, e aqui firmo nosso acordo selado pelo sangue da batalha, onde um estiver lutando o outro lá estará, a partir de agora somos irmãos.

Como após a guerra, os dois guerreiros não adentraram o povoado, os pacifistas ficaram sem saber o que realmente aconteceu, apenas contaram e enterraram os corpos no acampamento inimigo e agradeceram aos céus pelo livramento. Os inimigos que sobraram fugiram, espalhando a notícia pelos arredores que aquele povoado não conhecia a guerra porque era protegido por dois enviados dos deuses, e pelo modo que combatiam esses dois valentes também eram deuses, deuses da guerra.

A fama desse combate atravessou os tempos e espalhou-se com o vento pelos quatro cantos do mundo, de boca em boca, de povo em povo, de geração em geração. A valentia dos dois combatentes do bem inspirou fracos e fortes, homens e mulheres, povos, exércitos e reinos. Uns dizem que na verdade não eram dois, era um guerreiro só, mas como lutava com tamanha valentia, pareciam dois; uns dizem que o povoado fica a oeste do Atlântico, ao sul, numa terra ensolarada e banhada pelo mar, e que o povo é alegre, festeiro e tem uma fé inabalável. Dizem também que até hoje os dois guerreiros que, se amalgamaram no coração desse povo, ainda os protegem e lutam por eles.


Zeca d’Oxóssi da Aldeia Tupinambá

3 comentários:

  1. Lindo, Lindo!!
    Zeca muito obrigada por dedicado a minha mãezinha, que não foi a toa que nasceu no dia 23 de abril, se chama VALENTINA e é uma grande e valente guerreira!!
    Parabéns pelo Conto.
    Eliana Ferraz

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  2. Parabéns Parceiro! Já havia lido há algum tempo, mas não tinha comentado, ficou muito bom, só acho que "como já lhe disse pessoalmente" que podia ter explorado mais as inúmeras diferenças entre estes dois seres sagrados.
    Abraço.

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  3. Salve Ogum.
    Muito bom o conteúdo.
    Parabéns.
    Adson

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