OS ENVIADOS
Numa época distante,
perdida no tempo em que os homens defendiam sua honra e suas vidas com a
espada, vivia um povo simples, pessoas de bem que não conhecia a guerra, até
aquele momento, pois este povo corria o perigo iminente de ser eliminado por
uma violenta tribo invasora que destruía a tudo e a todos em seu caminho.
Este povo
simples não possuía armas, mas tinha fé, e assim orava aos céus para que fosse enviado
um livramento.
Às vésperas da
invasão, um valente cavaleiro das terras do norte vinha montado num cavalo branco;
trazia em seu corpo uma lustrosa armadura, um escudo em sua mão esquerda, uma
espada em sua cintura e nas costas uma longa capa vermelha. Do outro lado vinha
um grande e valente guerreiro negro a pé, também de armadura, escudo em punho,
uma espada na mão. Próximo do povoado os dois se encontraram. O guerreiro a pé
gritou logo.
-Auto lá,
estranho! Se for de bem, se apresente; se não for que se curve.
-Só me curvo
ou ao meu Mestre e Senhor! Mas se quer saber eu sou Jorge, nascido da Capadócia,
da ordem de São Miguel, enviado de Jesus Cristo para lutar por este povo. E
vós, quem sois?
-Eu sou Ogum, vindo
das terras de Ifé, rei de Irê, das tribos yorubás, da ordem dos Orixás e
enviado de Oxalá para lutar por este povo que não conhece a guerra.
-Então
baixemos nossas espadas, amigo, temos o mesmo objetivo e o mesmo inimigo em
comum, e como eles são numerosos, podemos lutar juntos.
Aquela noite
os dois guerreiros aproveitaram que a tribo inimiga não esperava um ataque - pois
sabia que o povoado a sua frente era de paz - e fizeram um ataque de frente.
Ogum, o guerreiro de Oxalá, empregava todas as suas forças no combate e sua
espada não descansava um momento sequer. Jorge, o cavaleiro do norte, montado
em seu cavalo distribuía golpes à esquerda e à direita, seu escudo não teve
serventia nesse confronto, pois seu espírito guerreiro combatia abertamente por
uma causa justa e um povo de paz.
Na manhã
seguinte, após a vitória, os dois guerreiros conversaram.
-Cavaleiro,
lutaste como um verdadeiro e digno guerreiro, sempre que precisar, pode me chamar,
terei a imensa honra de combater qualquer batalha ao seu lado.
-Eu digo o
mesmo, guerreiro negro, e aqui firmo nosso acordo selado pelo sangue da batalha,
onde um estiver lutando o outro lá estará, a partir de agora somos irmãos.
Como após a
guerra, os dois guerreiros não adentraram o povoado, os pacifistas ficaram sem
saber o que realmente aconteceu, apenas contaram e enterraram os corpos no
acampamento inimigo e agradeceram aos céus pelo livramento. Os inimigos que
sobraram fugiram, espalhando a notícia pelos arredores que aquele povoado não
conhecia a guerra porque era protegido por dois enviados dos deuses, e pelo
modo que combatiam esses dois valentes também eram deuses, deuses da guerra.
A fama desse
combate atravessou os tempos e espalhou-se com o vento pelos quatro cantos do
mundo, de boca em boca, de povo em povo, de geração em geração. A valentia dos
dois combatentes do bem inspirou fracos e fortes, homens e mulheres, povos,
exércitos e reinos. Uns dizem que na verdade não eram dois, era um guerreiro
só, mas como lutava com tamanha valentia, pareciam dois; uns dizem que o
povoado fica a oeste do Atlântico, ao sul, numa terra ensolarada e banhada pelo
mar, e que o povo é alegre, festeiro e tem uma fé inabalável. Dizem também que até
hoje os dois guerreiros que, se amalgamaram no coração desse povo, ainda os
protegem e lutam por eles.
Zeca d’Oxóssi da Aldeia Tupinambá
Lindo, Lindo!!
ResponderExcluirZeca muito obrigada por dedicado a minha mãezinha, que não foi a toa que nasceu no dia 23 de abril, se chama VALENTINA e é uma grande e valente guerreira!!
Parabéns pelo Conto.
Eliana Ferraz
Parabéns Parceiro! Já havia lido há algum tempo, mas não tinha comentado, ficou muito bom, só acho que "como já lhe disse pessoalmente" que podia ter explorado mais as inúmeras diferenças entre estes dois seres sagrados.
ResponderExcluirAbraço.
Salve Ogum.
ResponderExcluirMuito bom o conteúdo.
Parabéns.
Adson