SEGURANÇA
Na praça central
da cidade há muitas pessoas aproveitando o sol na tarde de domingo. As crianças
brincam na área de brinquedos sob a vigilância de suas mães, os jovens
aproveitam para namorar na grama verdinha à sombra das árvores, os ambulantes vendem
seus objetos artesanais e os seguranças rondam a praça a pé na ocupação de encarar
as pessoas. Entre os ambulantes está dona Nice, a baiana vendedora de acarajés,
e entre os seguranças está seu Geraldo, homem esguio, alto, forte e muito bem
para seus quarenta e oito anos de idade bem vividos. Há muitas pessoas na praça
nessa tarde, assim como há diversos olhares sobre os acontecimentos. Os jovens
olham apaixonadamente seus pares, os ambulantes olham os clientes passarem, os
seguranças olham problemas em todos os cantos, as mães olham seus filhos no
parque e as crianças só têm olhos para seus brinquedos.
Mas há também
um tipo bem comum em qualquer praça de qualquer canto do mundo: os desocupados
moradores de rua que, sem verem perspectivas na vida, aproveitam para pedir
algo aos transeuntes. Nessa tarde, um
desses desocupados já bem mamado de cachaça na cabeça, se desentende com outro
colega de ofício e surta no meio da praça com uma grossa barra de ferro na mão.
Todos os olhares da praça se dirigem logo para o surtado que ameaçava qualquer
um que tentasse se aproximar. As mães viram um homem sem o carinho e a proteção
de uma mãe na infância, os ambulantes viram alguém atrapalhando os clientes, os
seguranças viram um problema a ser resolvido imediatamente, os jovens viram um
homem que precisava urgentemente de uma mulher para amar e as crianças viram um
adulto que não sabia brincar.
Enquanto a
praça acompanhava a cena, os seguranças tentavam conversar com o homem e
fazê-lo largar a arma no chão. Em vão. Seu Geraldo, que até então estava a
distância observando seus parceiros, aproximou e, olhando firme no olho do
pobre homem, ordenou-lhe que largasse aquela barra para conversar. Sem chance. O
homem, além de não atendê-lo, espetou-o com o ferro na altura da barriga. Seu
Geraldo não viu mais nada, partiu para cima do agressor e este, erguendo sua
grossa barra de ferro, também partiu para o ataque ao mesmo tempo. Todos da
praça viram a iminente desgraça de seu Geraldo acontecer ali mesmo; menos dona
Nice, que viu o tempestuoso Exu Caveira tomar a frente do segurança.
– Exu omojubá! A baiana pedia proteção para o
homem de bem. O Caveira, levantando rapidamente a mão esquerda de seu protegido,
aparou a barra de ferro em sua própria mão e, num ato quase simultâneo, levou a
outra mão de seu Geraldo à garganta do desafortunado estrangulando-o e
imobilizando-o. Os outros seguranças tiveram um trabalhão danado pra tirar a
mão de seu Geraldo daquele pescoço sujo.
Ao término do
espetáculo todos viram, incrédulos, a grossa barra de ferro amassada justamente
na extremidade que atingira seu Geraldo, e constataram, surpresos,
o segurança sem um arranhão sequer.
Mais tarde a baiana
ofereceu um acarajé de graça para seu Geraldo e disse o que tinha visto. Disse
também para ele evitar este tipo de combate porque o Caveira não brinca em serviço,
quando ele vai, vai pra matar.
Zeca d’Oxóssi da Aldeia Tupinambá
Bom este conto, hein
ResponderExcluirLegal!!! Gostei, continue escrevendo sempre... Valoriza nossas raízes da forma que a mídia, preconceituosamente não faz!
ResponderExcluirAlexandre Bispo
Olha gostei deste conto, admiro quem este dom de ver o que os olhos da carne não ve.
ResponderExcluirAinda mais vendo o Sr Exu Caveira protegendo seu filho, as coisas acontecem e nos nem sabemos agradecer as vezes, né.
Exú é mojubá!
Marcia